O Zé do Telhado e a Condessa de Almada

Zé do Telhado

Certo dia, entra pelo quarto da senhora condessa uma das criadas de confiança esbaforida e muito assustada.

A viúva encontrava-se no Paço de Lanheses, casa dos antepassados do marido, para onde a família tinha sido conduzida devido à Guerra Civil.

Tempos conturbados, esses! Afligindo-se com a cara da criada, a senhora condessa pergunta-lhe o que se passa, se são más notícias do filho mais velho. A resposta não podia ter sido mais surpreendente!

O salteador Zé do Telhado estava à porta e tinha perguntado pela senhora de uma forma muito educada.

Apesar de algo amedrontada, esperando o pior por a fama de Zé do Telhado vir de longe, a senhora condessa foi ter com ele. De uma forma um tanto desajeitada e cheia de salamaleques, por saber estar perante uma grande senhora da melhor estirpe, que muito admirava pela bondade e ausência de fausto, o salteador explicou o motivo da visita.

Tinha conhecimento que a senhora condessa estaria na posse de um maravilhoso diadema antigo e pedia que o emprestasse para o casamento de filha. Ficaria eternamente grato. Vendo que nada se lhe podia opor, ainda por cima sem os homens em casa para a defender por se encontrarem na guerra, a viúva entrou em casa para ir buscar a tal jóia e para a entregar ao salteador, pensando nunca mais a ver.

Passaram-se alguns dias e nada de boas novas, tal como o esperado.

A certa altura, ouve os cães latir com vontade e cavalos a entrarem de rompante no terreiro do solar. Zé do Telhado surge de novo. O que seria desta vez?! Pedia a máxima das desculpas pelo atraso da entrega mas, quando tencionava devolver a preciosa jóia, reparou que não tinha um brilhante e, para não ficar mal visto, mandou encastrar outro no lugar do primeiro e à sua custa.

O espanto foi geral pois nem ele se apercebeu que a pedra desaparecida havia caído há muito, até antes do bandoleiro ter nascido. De onde tinha vindo a nova ninguém alguma vez teve a ousadia de perguntar.

Sendo lenda, ou não, a verdade é que o Conde D. Lourenço de Almada reuniu, por essa altura, no Alto-Minho, uma hoste de homens para formar uma guerrilha e continuar a lutar pelo seu Rei D. Miguel (apesar deste último ter sido já conduzido para o exílio). Da mesma forma, no Baixo-Minho, Zé do Telhado tomou a mesma resolução. Assim, ao tornarem-se os dois líderes de guerrilheiros da mesma facção, ao fazer deles companheiros d´armas, podemos compreender o respeito que poderia haver entre ambos e a possibilidade de verosimilhança nesta estória.